O petroleiro Skipper, apreendido pelos EUA na costa da Venezuela em 10 de dezembro, integrava os esforços do presidente Nicolás Maduro (Partido Socialista Unido da Venezuela, esquerda) para apoiar Cuba, segundo documentos e fontes ligadas à indústria petrolífera venezuelana. A informação é do jornal New York Times.
A embarcação partiu da Venezuela em 4 de dezembro com destino ao porto cubano de Matanzas. De acordo com dados internos da PDVSA (Petróleos de Venezuela S.A.), o navio transportava quase 2 milhões de barris de petróleo bruto.
Em 6 de dezembro, porém, o Skipper descarregou cerca de 50.000 barris para o navio Neptune 6, que seguiu para Cuba. Depois da operação, o Skipper partiu para a Ásia com a maior parte da carga ainda a bordo.
A rota evidencia como, na prática, Cuba se beneficia do comércio de petróleo com a Venezuela. A Cubametales, estatal cubana responsável pela comercialização de petróleo, listou Cuba como destino do navio, indicando que 1,1 milhão de barris alocados à empresa seguiriam para a ilha. O petroleiro, no entanto, acabou navegando para a China, após entregar apenas uma fração do volume previsto.
Durante décadas, Maduro e Hugo Chávez, seu antecessor, enviaram petróleo a Cuba a preços subsidiados, assegurando ao país um insumo estratégico a baixo custo.
Em contrapartida, o governo cubano enviou dezenas de milhares de médicos, instrutores esportivos e profissionais de segurança para missões na Venezuela. Maduro também passou a contar com guarda-costas e agentes de contraespionagem cubanos, segundo o jornal, em meio ao aumento da presença militar norte-americana no Caribe.
Nos últimos anos, entretanto, apenas parte do petróleo venezuelano destinado a Cuba chegou à ilha, conforme documentos da PDVSA. A maior parcela foi revendida à China, com os recursos repassados ao governo cubano.
Estima-se que parte desse dinheiro tenha sido usada para a compra de bens básicos, embora as fragilidades da economia cubana dificultem a verificação do destino dos recursos e a identificação de intermediários comerciais
Na 6ª feira (12.dez.2025), autoridades cubanas condenaram a apreensão do petroleiro pelos EUA, classificando o episódio como um “ato de pirataria e terrorismo marítimo”, que prejudica Cuba e sua população
“Essa ação faz parte da escalada dos EUA destinada a dificultar o direito legítimo da Venezuela de usar e comercializar livremente seus recursos naturais com outras nações, incluindo o fornecimento de hidrocarbonetos para Cuba”, diz o texto.
Antes de transportar petróleo venezuelano, o Skipper passou 4 anos integrado à frota clandestina do Irã, operando rotas de petróleo iraniano para a Síria e a China.
Segundo o New York Times, as viagens do navio revelam uma rede mais ampla e flexível que conecta as indústrias de energia da Venezuela, Cuba, Irã e Rússia. Os 4 países enfrentam sanções impostas por Washington e foram excluídos do mercado formal global de petróleo.
Especialistas ouvidos pelo jornal afirmam que esses laços energéticos foram fortalecidos por oportunidades comerciais, com os países compartilhando estratégias para contornar sanções e manter o fluxo de receitas petrolíferas.
A Rússia fornece à Venezuela importações de nafta, derivado usado para diluir o petróleo bruto pesado do país. A Rosneft, estatal petrolífera russa, produz cerca de 100 mil barris por dia na Venezuela e já desempenhou papel relevante na exportação de petróleo venezuelano para a China.


