Estudo sintetizou dados de 6.049 registros de contaminação em todos os continentes ao longo da última décadaEstudo sintetizou dados de 6.049 registros de contaminação em todos os continentes ao longo da última década

46% dos ambientes aquáticos do mundo estão contaminados por lixo

2025/12/15 06:13
“Sujos” ou “extremamente sujos”: estas são as classificações de 46% dos ambientes aquáticos do mundo. A conclusão é de um levantamento que compilou e sistematizou dados de 6.049 registros de contaminação por lixo em ambientes aquáticos de todos os continentes ao longo da última década.

Coordenado pelo pesquisador Ítalo Braga de Castro e liderado pelo doutorando Victor Vasques Ribeiro, do IMar-Unifesp (Instituto do Mar da Universidade Federal de São Paulo), o estudo analisou artigos publicados de 2013 a 2023 e calculou o nível de limpeza de rios, estuários, praias e manguezais com base no CCI (Clean-Coast Index), uma métrica internacional que quantifica a densidade de resíduos sólidos em ambientes costeiros. Os resultados foram publicados no Journal of Hazardous Materials.

O estudo indica que há uma distribuição desigual do esforço de monitoramento. Nesse cenário, o Brasil se destaca, liderando o número de registros no período. “Mas isso não garante que os ambientes monitorados apresentem boas condições e estejam limpos. Os resultados mostram que cerca de 30% dos ambientes costeiros brasileiros foram considerados sujos ou extremamente sujos de acordo com a escala CCI”, diz Castro.

Um dos casos mais críticos de contaminação se encontra em território brasileiro, e muito próximo da cidade de São Paulo, nos manguezais de Santos, que figuram entre os pontos mais contaminados do planeta.

A síntese mundial produzida pela equipe mostrou uma homogeneidade surpreendente na composição do lixo, independentemente de diferenças culturais, econômicas ou geográficas. Plásticos e bitucas de cigarro correspondem a quase 80% dos resíduos encontrados globalmente. “São raríssimos os locais totalmente livres de lixo”, diz o pesquisador.

Os plásticos representam 68% dos itens registrados. Seu predomínio é potencializado pela persistência no meio ambiente, pela fragmentação em micro e nanoplásticos e pelo transporte por correntes oceânicas a grandes distâncias. As bitucas, responsáveis por 11% dos resíduos, liberam mais de 150 substâncias tóxicas que podem ser muito prejudiciais aos organismos aquáticos.

O estudo confirmou, com dados quantitativos, o papel positivo desempenhado pelas áreas de proteção ambiental. “Analisamos 445 áreas protegidas em 52 países. A conclusão é inequívoca: a proteção reduz a contaminação em até 7 vezes. Cerca de metade das áreas protegidas investigadas foi classificada como ‘limpa’ ou ‘muito limpa’. Mesmo assim, a proteção não é garantia de imunidade frente à crescente pressão humana. Cerca de 31% das áreas protegidas foram classificadas como ‘sujas’ ou ‘extremamente sujas’, mostrando que não estão efetivamente imunes à contaminação por lixo no mar”, diz Danilo Freitas Rangel, mestrando do IMar-Unifesp que participou da equipe de pesquisadores.

Um resultado mais sofisticado do trabalho é o chamado “efeito de borda” nas fronteiras das unidades de conservação. A equipe calculou a distância de cada ponto de amostragem até os limites das áreas protegidas, identificando um padrão: o lixo se acumula principalmente nas beiradas, evidenciando a influência direta das atividades humanas do entorno. “Esse efeito é reforçado por pressões externas como turismo, urbanização próxima e transporte de resíduos por rios e correntes marinhas. A vulnerabilidade das bordas sugere a necessidade de políticas de amortecimento territorial, gestão integrada e fiscalização para além dos limites formais das unidades de conservação”, afirma Castro.

O estudo também inovou ao cruzar dados de contaminação com indicadores socioeconômicos globais, utilizando o GRDI (Global Gridded Relative Deprivation Index) para estimar níveis de desenvolvimento em escala de 1 quilômetro quadrado. “Observamos um padrão não linear: em áreas não protegidas, a contaminação aumenta nos estágios iniciais de desenvolvimento econômico, mas começa a cair quando o país atinge determinado patamar de infraestrutura e governança ambiental. Já dentro das áreas protegidas, o desenvolvimento tende a aumentar a contaminação –sinal de que investimentos em gestão e fiscalização ainda não acompanham a velocidade da atividade econômica”, diz Leonardo Lopes Costa, um dos autores do estudo.

O enfrentamento da contaminação por lixo, especialmente plástico, depende de ações integradas em toda a cadeia produtiva –desde redução da fabricação, passando por sistemas eficientes de coleta e reaproveitamento, até acordos multilaterais que evitem deslocamentos transfronteiriços de resíduos. Sem mudanças estruturais na governança global do lixo, o cenário só tende a se agravar. Neste contexto, um dos aspectos mais relevantes do estudo é sua utilidade direta nos processos internacionais em curso. “Os resultados oferecem uma base científica inédita para subsidiar políticas públicas e negociações, como o Tratado Global do Plástico e o Marco Global da Biodiversidade de Kunming-Montreal”, diz Castro.

O estudo foi apoiado pela Fapesp por meio de Auxílio à Pesquisa Regular concedido a Castro, bolsa de pós-doutorado concedida a Costa e de doutorado a Ribeiro.

O artigo Influence of protected areas and socioeconomic development on litter contamination: a global analysis pode ser acessado em: www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0304389425033424.


Com informações da Agência Fapesp.

Isenção de responsabilidade: Os artigos republicados neste site são provenientes de plataformas públicas e são fornecidos apenas para fins informativos. Eles não refletem necessariamente a opinião da MEXC. Todos os direitos permanecem com os autores originais. Se você acredita que algum conteúdo infringe direitos de terceiros, entre em contato pelo e-mail [email protected] para solicitar a remoção. A MEXC não oferece garantias quanto à precisão, integridade ou atualidade das informações e não se responsabiliza por quaisquer ações tomadas com base no conteúdo fornecido. O conteúdo não constitui aconselhamento financeiro, jurídico ou profissional, nem deve ser considerado uma recomendação ou endosso por parte da MEXC.

Você também pode gostar

Citadel apresenta SuiBall: Uma carteira de hardware nativa Sui revolucionária

Citadel apresenta SuiBall: Uma carteira de hardware nativa Sui revolucionária

O post Citadel Introduz SuiBall: Uma Carteira de Hardware Nativa Sui Revolucionária apareceu no BitcoinEthereumNews.com. Peter Zhang 02 de Out de 2025 03:48 A Citadel Wallet revela SuiBall, uma carteira de hardware nativa Sui, oferecendo assinatura clara e integração profunda com o ecossistema Sui, estabelecendo novos padrões para segurança cripto. A Citadel Wallet, um nome proeminente no design de hardware cripto, anunciou o lançamento da SuiBall, a primeira carteira de hardware projetada especificamente para a blockchain Sui. O anúncio foi feito durante o SuiFest, um evento ao vivo celebrando avanços dentro do ecossistema Sui. De acordo com a Sui Foundation, a SuiBall visa proporcionar uma experiência do usuário perfeita e segura, integrando-se profundamente com os recursos e aplicações da Sui. Um Novo Padrão para Carteiras de Hardware A carteira SuiBall introduz a 'assinatura clara', uma funcionalidade que permite aos usuários visualizar e entender os detalhes da transação antes da aprovação, abordando os riscos de segurança associados à tradicional 'assinatura cega'. Esta inovação garante transparência e capacita os usuários fornecendo uma interface totalmente legível por humanos. A Suiball suporta todos os ativos nativos Sui, incluindo NFTs e plataformas DeFi como Suilend e Bluefin, e tem planos para expandir para jogos e pagamentos. Adeniyi Abiodun, cofundador e diretor de tecnologia (CTO) da Mysten Labs, destacou o papel da SuiBall na melhoria da transparência das transações, crucial para o crescimento do BTCfi e outras aplicações de alto valor em toda a rede Sui. Com quase 30% do Valor Total Bloqueado (TVL) da Sui compreendendo ativos BTC, a Suiball está posicionada para facilitar interações seguras e transparentes dentro do panorama DeFi. Transformando Visão em Realidade A SuiBall representa um passo significativo no hardware cripto, combinando funcionalidades de segurança avançadas com um design amigável ao usuário. Andy Kulikyan, Fundador da Citadel Wallet, enfatizou o papel do dispositivo no estabelecimento de novos padrões para dispositivos pessoais Web3. Ao integrar hardware seguro com as capacidades blockchain da Sui, a Suiball fornece aos usuários as ferramentas necessárias para uma gestão de ativos confiante. O lançamento da SuiBall marca um momento crucial para dispositivos cripto seguros, pois promete oferecer uma...
Compartilhar
BitcoinEthereumNews2025/10/04 09:44
Nunes diz que apoia candidatura de Flávio à Presidência

Nunes diz que apoia candidatura de Flávio à Presidência

Prefeito de São Paulo negou que Tarcísio seja candidato, mas disse que o governador “teria mais condições de agregar” do que Flávio
Compartilhar
Poder3602025/12/16 11:33
Grupo CME expande derivativos de criptomoedas com Futuros de XRP e SOL cotados à vista

Grupo CME expande derivativos de criptomoedas com Futuros de XRP e SOL cotados à vista

O CME Group lança futuros de XRP e SOL cotados à vista, expandindo o acesso a criptomoedas focado no retalho com vencimentos mais longos e custos de rolagem reduzidos. O CME Group lançou à vista
Compartilhar
LiveBitcoinNews2025/12/16 11:30